O Gerente de Projetos no divã

por Onevair Ferrari em 15.09.2014

Não são poucas as pressões que recaem sobre o Gerente de Projetos. Fazer acontecer o projeto, cuidar para que seja gerado o produto do projeto dentro do prazo, dentro do orçamento, em conformidade às especificações, com recursos limitados e satisfazendo os principais stakeholders, não é trabalho para qualquer um.

O que num primeiro momento pode parecer um trabalho glamoroso é, na maior parte das vezes, uma sucessão de desafios que apavoram, desmotivam ou aborrecem a maioria dos mortais. O fato é que a profissão de Gerente de Projetos, a exemplo de outras, exige uma série de aptidões, algumas passíveis de serem desenvolvidas, outras realmente inatas.

Não se aprende a ser Gerente de Projetos somente com cursos, livros e títulos. É uma profissão essencialmente prática, em que a experiência, as dores e as cicatrizes contam muito mais que todos os diplomas e certificados. No cartão de milhagem desta profissão, o que pontua são as lições aprendidas. Referências de projetos já realizados são o patrimônio profissional mais valioso e não cometer os mesmos erros é o mantra.

O Gerente de Projetos tem que lidar recorrentemente com situações em que os objetivos estão acima dos recursos, dos prazos disponíveis e dos interesses de muitos dos envolvidos. Nestes momentos é a bagagem profissional que permitirá alcançá-los e o Gerente de Projetos tem que ser meio político, meio mágico, meio bruxo e meio alquimista, fazendo dos limões, a limonada. Sim, quatro meios, pois afinal, multiplicar-se faz parte da função.

A competência do Gerente de Projetos é colocada à prova com muita frequência. No mínimo, de forma escancarada, ao término de cada projeto, com os resultados atingidos. Mas seguidamente ao longo de cada projeto, de acordo com as entregas efetivamente realizadas.

Até algum tempo atrás, apenas projetos grandes adotavam um Gerente de Projetos. Era uma função diferenciada no mercado, que exigia um profissional experiente e bem remunerado. Na medida em que esta função se “popularizou” nas mais diversas áreas de aplicação e para projetos menores, os requisitos de contratação e os salários se tornaram mais irregulares. São contratados desde profissionais com apenas dois anos de formado até outros com mais de vinte, dependendo das responsabilidades e do porte e complexidade dos projetos. O status da função não é mais o mesmo...

Ainda que reconhecendo a necessidade, nem todas as organizações têm trilha de carreira para Gerente de Projetos. Em muitas, esta é uma função “acidental”, como que uma chicane no percurso. Em algumas estruturas organizacionais, em especial as fortemente funcionais, o próprio título de “gerente” de projetos por vezes incomoda os gerentes funcionais, geralmente mais antigos, poderosos e “donos” dos recursos necessários aos projetos.

Engajar e conseguir resultados de pessoas sobre as quais não tem autoridade faz parte da rotina. Por mais que atue como líder da equipe do projeto, o Gerente de Projetos tem, porém, uma parte do seu trabalho muito solitária. Todos têm algo a sugerir a ele, muitos têm algo a reclamar com ele, alguns se opõem declaradamente a ele e, pior, outros se opõem silenciosamente a ele.

Mas a quem levar todas estas aflições? A primeira ideia é que o Gerente de Projetos pode recorrer ao patrocinador do projeto para todas as suas aflições. Mas um bom Gerente de Projetos sabe que deve ser muito seletivo no que levar ao patrocinador. Levar todos os problemas para o patrocinador do projeto é sinal de incompetência. Ao patrocinador do projeto levam-se opções. Ao Gerente de Projetos compete analisar o problema, explorar as diversas alternativas de solução, quantificar as consequências e só então, caso estejam além da sua alçada de decisão, levá-las à apreciação do patrocinador.

Portanto, motivos não faltam para o Gerente de Projetos entrar em crise e ter que recorrer ao divã. Mas o divã, seja ele qual for nessa metáfora, ainda é melhor que a maca.

Gerente de Projetos é certamente uma profissão para poucos.

Ressalva: o termo Gerente de Projetos foi aqui tratado no masculino por simplificação, mas o autor deixa claro que elas também estão sujeitas aos mesmos desafios e, possivelmente, a mais alguns! Mas, por favor, nada de Gerentas de Projetos!

Onevair Ferrari, DSc, MSc, PMP é professor, consultor, palestrante, coach em Gerenciamento de Projetos e diretor da Nexor.
© Copyright 2013 Nexor Consultoria e Gerenciamento. Todos os direitos reservados.